ao parque, assisti a vídeos sobre criaturas do fundo do mar. Era um daqueles dias raros e difíceis em que qualquer outra coisa parecia importar. Elo secretamente esperava que X se lembrasse disso daqui a alguns anos, um instantâneo de felicidade em uma vida que muitas vezes parecia grande demais, rápida demais e complicada demais.
Mas agora, enquanto estavam sentados juntos no sofá da sala, Eloá percebeu que algo estava diferente. X estava extremamente quieto. Suas perninhas balançavam para fora da borda do sofá, e seus dedos agarravam seu tubarão de brinquedo favorito com um pouco mais de força do que o normal. O menino olhou para o pai, não com a curiosidade arregalada que geralmente acompanhava suas perguntas sem sentido sobre foguetes e espaço, mas com uma seriedade que parecia pesada demais para alguém da sua idade.
“Pai, posso te perguntar uma coisa muito importante?” A voz de X era quase um sussurro.
Eloá abaixou o telefone, com toda a atenção voltada para a boca. “Claro, amigo. O que está acontecendo?”
X hesitou, mordendo o lábio. Olhou para o chão e depois para o pai. “Eu queria morar mais com a mamãe.”
As palavras atingiram Eloá como um trovão. Por um momento, a sala pareceu congelar. O som das ondas lá fora tornou-se distante, a luz dourada de repente brilhante demais. Eloá piscou, temendo ter ouvido a voz corretamente. Então ele viu — a preocupação nos olhos de X, a forma como seus pequenos ombros se encolheram como se ele já soubesse que aquela pergunta poderia quebrar alguma coisa.
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Eloá respirou fundo, recompondo-se. “Você pode me dizer por quê?”, perguntou ele rapidamente.
X olhou para baixo novamente, sua voz ainda mais suave agora. “Porque ela fica triste quando eu não estou lá. E eu a amo. Ela precisa mais de mim.”
Lá estava. O tipo de verdade que só uma criança podia falar — simples, pura e completamente destruidora. Eloísa recuou, procurando palavras. Ele havia passado anos tomando decisões impossíveis, lançando foguetes, planejando o futuro. Mas ambos o haviam preparado para isso. Para sua própria sorte, para lhe dizer, da maneira mais infantil possível, que se sentia mais necessário em outro lugar.
Eloá não discutiu. Ele não protestou. Porque sabia que não se tratava de custódia ou justiça. Não se tratava dele. Tratava-se de um garotinho tentando carregar um peso grande demais para seu pequeno coração.
“Você acha que tem que cuidar da mamãe?”, perguntou Eloá suavemente.
X acrescentou. “Ela sorri mais quando estou com ela. Se eu a ajudasse a cozinhar. Se a gente lesse livros. Acho que ela é fofa.”
As palavras eram gentis, não de crueldade, mas de amor. Eloísa olhou para o filho — olhou de verdade. Não se tratava de escolher lados. Tratava-se de um cachorro de 5 anos dizendo o que ele achava certo. E isso partiu o coração de Eloísa.
Ele estendeu a mão e afastou uma mecha de cabelo da testa de X. “Isso é coisa de criança. Você se importa muito com ela, não é?”
“Sim”, sussurrou X.
Eloá engoliu em seco. Havia milhares de coisas que ele poderia dizer — razão pela qual ele também precisava de seus argumentos, lógica, lágrimas de emoção. Mas todas pareciam certas. Porque naquele momento, ele não era o CEO da Tesla ou da SpaceX. Ele não era o inovador, o bilionário, o solucionador de problemas do mundo. Ele era apenas um pai. E seus argumentos precisavam ser ouvidos.
“Certo”, disse Eloísa suavemente. “Obrigada por me contar. Foi muita coragem.”
Eles ficaram em silêncio por um tempo. Lá fora, o céu mudava de dourado para um azul profundo e gelado. Eloísa olhava para o horizonte, imaginando como a vida havia se tornado tão complicada. Ele costumava pensar que ser um bom pai era ser forte, provendo tudo, construindo o futuro. Mas talvez, só talvez, também significasse saber quando deixar ir — mesmo que só um pouco.
“Posso vir aqui nos fins de semana?”, perguntou X de repente, quebrando o silêncio.
Eloá sorriu apesar do aperto no peito. “Claro. Filmes de tubarão e panquecas… ninguém gosta disso.”
X se aproximou dele, apoiando a cabeça no braço do pai. Com aquele simples toque, Eloá sentiu tudo mudar. Porque amor, ele percebeu, não era sobre controle. Era sobre presença. E presença de carne, mesmo que doesse.
Naquela noite, depois que X foi para a cama, a casa pareceu mais pesada do que o habitual. Eloá estava parado ao lado da porta da cozinha, olhando para a extensão escura do Pacífico. O silêncio era ensurdecedor. Ele tomou um gole de café frio e repetiu a conversa mentalmente, repetidamente.
“Ela precisa mais de mim.”
As palavras ecoaram como um ciclo que ele não conseguia desligar. Ele conhecia os fatos — seu trabalho o mantinha ocupado. Havia pais, tutores e governantas para ajudar a cuidar de X quando ele não podia. Ele sempre pensara que o amor poderia ser construído em rotinas — cafés da manhã, histórias para dormir, fins de semana no oceano. Mas crianças não mediam o amor pelo esforço. Elas o sentiam na presença. E às vezes, Eloá tinha que admitir, ele simplesmente não estava lá.
Ele abriu o telefone, digitou uma mensagem para Grimes, apagou e digitou novamente. Finalmente, ele clicou: “Podemos conversar amanhã? É sobre X.”
No dia seguinte, Grimes chegou em casa. Eloá não perdeu tempo com conversa fiada.
“Ele me disse que quer ficar mais tempo com você”, ele disse simplesmente.
Grimes piscou, pego de surpresa. “Ele disse isso?”
“É”, respondeu Eloá. “Ele disse que a gente fica triste quando ele não está. Disse que queria ajudar.”
Grimes estava abatida, os dedos curvados na borda da xícara de café. “Eu nunca disse a ele para dizer isso. Eu nunca soube que ele se sentia assim.”
Eloá acrescentou: “Ele vê mais do que pensamos.”
Houve uma pausa, carregada de história. O divórcio era sempre um corte profundo, não importava quanto tempo passasse. Sempre havia uma cicatriz sob a morte.
“O que fazemos?” ela perguntou baixinho.
Eloá expirou lentamente. “Fazemos isso funcionar. Ajustamos a agenda. Deixamos que ele fique mais tempo com você durante a semana, e ele vem me ver nos fins de semana. Não vou lutar contra isso.”
Os olhos dela encontraram os dele. “Você está certo?”
Ele acrescentou: “Espero que ele se sinta seguro. Espero que ele sinta que estamos ouvindo — mesmo que doa.”
Grimes deu um pequeno sorriso agradecido. Por um momento, o clima entre eles diminuiu.
Naquele fim de semana, quando X voltou para a casa de Eloá, tudo parecia diferente. Fizeram bolinhos em formato de tubarão, assistiram aos seus documentários favoritos e construíram um forte de cobertores na sala de estar. Mas desta vez, Eloá não sentiu a pressão do trabalho nem o peso do relógio. Ele estava lá, totalmente predestinado.
Enquanto X se deitava naquela noite, olhou para o pai e disse: “Eu gosto assim. Posso ficar com você e a mamãe. Sou metade de cada um de vocês.”
Eloá respondeu, com a garganta apertada. “Você está. E nós dois estamos melhores por sua causa.”
X sorriu, puxando seu tubarão de brinquedo para perto. “Promete que sempre teremos festas de fim de semana com bolinhos?”
Eloá se abaixou e beijou sua testa. “Prometo.”
Enquanto seu filho adormecia, Eloá sentou-se um pouco mais perto da cama, observando o peito dele subir e descer. Naquele momento de silêncio, ele percebeu uma coisa: amor não era sobre ser perfeito. Era sobre se mostrar, ouvir e deixar ir quando mais importava.
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